Por Paulo Eduardo Gonçalves (*)Guerreiros do esporte, é isto que observamos a cada dia que passa e cada competição que se realiza. Principalmente no que se refere as categorias de base, especificamente no futsal. Seria a temida especialização precoce? Ou simplesmente o despreparo de técnicos/treinadores incompetente em seu trabalho cotidiano, querendo ganhar jogos acima de qualquer coisa?
Para sermos mais claros temos a seguinte linha de pensamento, é chegada à época de realização dos “JESC” Jogos Escolares de Santa Catarina, fase municipal, antes mesmo de iniciar as competições já acontecem às aniquilações de seres humanos (estudantes) principalmente a psíquica.
Visto que se imaginarmos uma escola com aproximadamente 200 estudantes, e que a escola seja de ensino fundamental, tenha uma turma por serie. Se dividirmos meio a meio entre meninos e meninas, teremos aproximadamente 50 estudantes com idade para participar da dita competição.
Pela cultura estabelecida em nossa região, por baixo 80% destas crianças gostariam de jogar o futsal (é obvio que este numero e bastante reduzido devido a alguns estudantes nem se esforçam para praticar o futsal, pois, já sofreram algum tipo de trauma em virtude do esporte ou da falta dele). Então imaginem serão somente 40 estudantes “aptos a pratica do futsal” nessa escola hipotética. Entendamos, de 200 estudantes apenas 40 estaria “aptos a jogar”. Querem exclusão maior que essa? Porque acontecem as famigeradas aniquilações? Devido ao fato do “professor/treinador” querem somente os mais aptos fisicamente e com habilidades para o esporte. Provavelmente nessa “etapa de escolha” muitos dos educandos serão frustrados.
Sem mais delongas, vamos a outra batalha, os verdadeiros guerreiros já venceram os demais concorrentes da sua escola (os descoordenados, os gordinhos, etc.), a partir disso, começa a batalha final, luta contra as outras escolas. Entre os generais (aqui denominados de professores despreparados de Educação Física), somente a vitória interessa, não importando quem estiver do outro lado, pois na sociedade capitalista somente o mais forte sobrevive.
Professores a beira da quadra, a ponto de sacrificar seu próprio estudante (soldado) se não fizer a função a qual foi lhe incumbida, utilizando de gritos e olhares que assustam até mesmo árbitros e torcida, mas não tem nenhum problema, lá fora na sociedade eles também vão ser cobrados, também vão ter que obedecer sem ter oportunidade de questionar, ou ter sua individualidade respeitada...
Cabe aqui relembrar algumas coisas, os setes princípios científicos do treinamento esportivo, segundo GOMES & MACHADO:
1º Principio da Conscientização,
2º Principio da Saúde,
3º Principio das Diferenças Individuais,
4º Principio de Elevação Progressiva da Carga ou da Sobrecarga,
5º Principio da Continuidade,
6º Principio da Adaptação e
7º Principio da Especificidade.
É claro que não vamos se aprofundar nestes princípios, afinal todo educador físico/treinador deve conhecê-los, contudo demagogicamente não aplicam nas competições e nas atividades cotidianas nas aulas de educação física ou treinamento, pois o que interessa é a Vitória acima de qualquer coisa.
Certo e errado é relativo. Porém, entendo que o esporte dessa forma foge completamente de seus jargões tais como: “Esporte para todos”, “Esporte como fator de inclusão social” e “Esporte como um meio e não um fim”.
Makarenko diz: “Para a revolução acontecer nas ruas é preciso primeiro a revolução acontecer nas escolas”, e lembrando rapidamente a vocês, o esporte é uma ferramenta altamente educativa e a competição para o esporte uma ferramenta necessária, quando não a utilizamos como a maioria dos “técnicos, treinadores e professores de educação física” estão utilizando.
O grande problema é claro (em minha modesta opinião), é o despreparo de alguns profissionais que transformam o esporte e a competição em uma ferramenta de guerra e seus estudantes e comandados em soldados sem escrúpulos. Inclusive na guerra os guerreiros que precisam ter virtudes como ética, respeito, consciência de grupo. Ou seja, não precisamos de guerreiros inescrupulosos e sim de seres humanos, inseridos e comprometidos com a modificação e a construção de uma outra sociedade. Onde caibamos todos nós.
(*) Paulo Eduardo GonçalvesEducador Físico contratado da Rede Estadual de Ensino, integrante da direção da Associação Paulo Freire de Educação e Cultura Popular de Fraiburgo – APAFEC, técnico do Independente Futsal.