Mano Menezes, quem diria
A CBF continua a mesma. Entra ano sai ano, entra treinador sai treinador, as competições mudam, mas a cúpula maior do futebol brasileiro não toma jeito. Ricardo Teixeira, não por acaso presidente do Comitê Organizador Local da Copa de 2014, e também não por acaso foco principal de todas as críticas dirigidas à nossa preparação para o evento, comanda na cara de pau e sem o mínimo constrangimento, a hoje mais importante agência negociadora de jogadores profissionais. A matéria publicada nesta quarta-feira pela Folha de São Paulo, reproduzida abaixo, é não só esclarecedora, mas principalmente estarrecedora. É com essa turma, associada ao Ministério do Esporte do senhor Orlando Silva, que vamos encarar, logo, logo, uma Copa do Mundo e uma Olimpíada. Deus nos ajude.
A CBF continua a mesma. Entra ano sai ano, entra treinador sai treinador, as competições mudam, mas a cúpula maior do futebol brasileiro não toma jeito. Ricardo Teixeira, não por acaso presidente do Comitê Organizador Local da Copa de 2014, e também não por acaso foco principal de todas as críticas dirigidas à nossa preparação para o evento, comanda na cara de pau e sem o mínimo constrangimento, a hoje mais importante agência negociadora de jogadores profissionais. A matéria publicada nesta quarta-feira pela Folha de São Paulo, reproduzida abaixo, é não só esclarecedora, mas principalmente estarrecedora. É com essa turma, associada ao Ministério do Esporte do senhor Orlando Silva, que vamos encarar, logo, logo, uma Copa do Mundo e uma Olimpíada. Deus nos ajude.
Por Gustavo Franceschini, Gustavo Perroni
e Thales Calipo, da Folha de São Paulo
O clima permissivo encontrado no hotel The Dorchester, durante a passagem da seleção brasileira por Londres, na última semana, não foi uma exceção. Desde que o Brasil foi derrotado na Copa do Mundo de 2010 e, consequentemente, o comando técnico foi trocado, as portas das concentrações voltaram a ficar abertas a olheiros e empresários em geral, em postura completamente oposta à adotada por Dunga durante sua gestão.
Em Londres, antes do jogo com a Escócia, por exemplo, pelo menos oito empresários tiveram acesso livre aos jogadores brasileiros. Entre eles, estavam nomes como o de Pini Zahavi, um dos maiores agentes do futebol mundial, e Kia Joorabchian, conhecido no país por comandar o fundo de investimentos MSI, ex-parceiro do Corinthians.
Também tiveram contato com os atletas em Londres alguns agentes brasileiros, como Wagner Ribeiro (que representa Neymar e Lucas) e Carlos Leite (empresário de Mano Menezes e do meia Renato Augusto).
O encontro entre agente e atletas em Londres não só aconteceu com a permissão da CBF, mas contou também com a participação direta da entidade. Dois funcionários da seleção brasileira recepcionaram os agentes no saguão.
O esquema foi simples. Os empresários ficavam num canto do lobby do hotel The Dorchester e, após o jantar, os atletas foram encontrá-los. As conversas duravam, no máximo, 20 minutos. Até o técnico Mano Menezes conversou com alguns dos “visitantes”, dando claro sinal de que aprova o trânsito dessas pessoas.
Os agentes alegam que não se fala de negócios nessas visitas. E que elas servem apenas para distrair os jogadores e para os clientes dizerem se precisam de algo. Argumentam que na Copa da África, alguns atletas não ficaram à vontade com a clausura imposta por Dunga. Luís Fabiano foi um deles.
No estádio, já sem nenhuma ligação com a CBF, os empresários estavam em ritmo de encontro de negócios. Wagner Ribeiro e Thiago Ferro, da DIS, ligada ao grupo Sonda, assistiram à partida no camarote de Zahavi. Após o jogo, eles jantaram com Neymar.
A seleção brasileira registrou posturas completamente opostas em pouco menos de quatro anos. Durante a preparação para a Copa do Mundo de 2006, o técnico Carlos Alberto Parreira atendeu aos interesses comerciais da CBF e permitiu a realização de uma “pré-temporada” em Weggis. Com os cofres cheios, a entidade transformou o período que serviria para a preparação dos atletas em um grande show.
Esse clima festivo chegou à concentração. Além da liberdade para curtirem a noite, os jogadores esbarravam diariamente na recepção do hotel com torcedores batendo bola e até atrizes pornôs. Empresários gozavam da mesma liberdade e aproveitavam para estreitar laços com os atletas.
Todo esse oba-oba foi apontado posteriormente pela CBF como o grande motivo para o fracasso no Mundial de 2006. Diante disso, Dunga foi contratado com a missão de mudar esse panorama. E, para isso, o técnico radicalizou ao blindar completamente o grupo da seleção, afastando assim os atletas dos empresários, torcida e imprensa.
O novo fracasso fez a CBF, mais uma vez, mudar de ideia. Com Mano Menezes, o presidente Ricardo Teixeira anunciou que pretendia reaproximar seleção e torcedores.
O convívio entre agentes e jogadores, no entanto, não se resume à concentração da equipe principal. Nas categorias menores, o entra e sai de empresários acontece da mesma forma, com representantes de clubes abordando diretamente alguns dos destaques do time nacional.
No Peru, durante o Sul-Americano sub-20, realizado no início deste ano, os empresários não encontraram nenhuma barreira para conversar com atletas. Logo após a conquista do título, por exemplo, enquanto acontecia um churrasco nas dependências da concentração, o olheiro Pieter de Visser, do Chelsea, abordava livremente os volantes Casemiro, do São Paulo, e Fernando, do Grêmio, a poucos metros do local em que acontecia a festa.
Grande astro do time comandado por Ney Franco, o atacante Neymar também teve pelo menos um contato com Albert Valentim, representante do Barcelona no torneio. Os dois acompanharam a vitória do Brasil sobre o Equador por 1 a 0 na tribuna de honra do estádio Monumental UNSA, em Arequipa. O dirigente já havia destacado o interesse especial pelo futebol do atacante santista.
Neymar, por sinal, esteve acompanhado durante toda a disputa do hexagonal do Sul-Americano por seu pai, que frequentemente era visto conversando com alguns dos muitos empresários hospedados no mesmo hotel em que estava a seleção sub-20. Um deles era Nick Arcuri, representante de Jucilei, ex-Corinthians, e que estava no Peru acompanhando outro cliente seu, o atacante Willian José, do São Paulo.
Esse fenômeno já atingiu até a seleção brasileira sub-17, que está no Equador disputando o Sul-Americano da categoria. Apesar de a grande maioria ainda estar longe do time profissional, empresários tentam prospectar novos clientes diretamente na fonte, como acontece com Andrigo, que já desperta o interesse de gigantes do futebol mundial. A revelação do Internacional, no entanto, conta com o suporte in loco de um representante da DIS, empresa que agencia a sua carreira, para quaisquer contatos.