Estamos na semana que antecede a decisão do título do Campeonato Brasileiro da Série A de 2009. No próximo domingo, Flamengo e Grêmio jogam no Maracanã e, se o time carioca vencer, chegará ao hexacampeonato. Um “tropeço” rubronegro, entretanto, pode fazer com que o título fique com Internacional, Palmeiras ou São Paulo.
A grande polêmica da semana é que insinuam que o Grêmio poderá perder para o adversário de propósito. Assim, seria evitado que seu rival eterno, o Internacional, viesse a se sagrar campeão brasileiro após uma espera de 30 anos – e logo no ano de seu centenário!
É aí que, como diria o poetinha Vinícius de Moraes, “de repente, não mais que de repente”, os críticos da fórmula de pontos corridos para o Campeonato Brasileiro se entusiasmam para promover ácida crítica ao campeonato mais emocionante da história do futebol brasileiro!
Argumentam eles, os detratores dos pontos corridos, que o Grêmio jogará desinteressado e com propensões a poder “entregar” o resultado, porque a competição é por pontos corridos. Se o campeonato fosse por “mata-mata”, nada disso estaria acontecendo, afinal, só estariam em disputa clubes que estivessem presentes nesse formato, decisivo, sem concorrentes desinteressados.
É lamentável que os defensores do Brasileirão no formato anterior recorram a sofismas absurdos, verdadeiras aleivosias, para defenderem a fórmula que julgam ideal. O fazem, ainda, em momento completamente inoportuno.
Afinal, estamos presenciando o fim de um certame que chega à última rodada com quatro – eu escrevi quatro! – postulantes ao título, algo inédito na disputa de campeonatos nacionais!
Busquem nos arquivos, vasculhem, desafio a encontrarem: quando um Campeonato Brasileiro em pontos corridos teve quatro clubes postulantes ao título até a última rodada? E no Campeonato Italiano? E no Espanhol? E no Inglês? E no Francês? Alguma vez já se viu, na história do futebol, algum campeonato nacional chegar à última rodada com quatro clubes podendo ser campeões?
Quer mais emoção do que isso?
E, vale lembrar: a esta altura, poderiam ser cinco clubes os aspirantes ao título; basta lembrar que o Cruzeiro não disputa mais o “caneco” apenas porque deixou o mesmo polêmico Grêmio empatar, com gol no último minuto e com um jogador a menos, no jogo entre os dois, em Belo Horizonte, semanas atrás. Não fosse esse improvável resultado, e teríamos CINCO clubes disputando o título até a última rodada.
Quer mais emoção do que isso?
Mas, principal de tudo, os defensores do “mata-mata” omitem um dado, importantíssimo: para que se defina os clubes que chegarão aos playoffs, existe uma fase de classificação; e, na fase de classificação, situações desse tipo, como a do jogo Flamengo x Grêmio, não só são possíveis, como prováveis.
Imagine-se o seguinte: na fase classificatória, habilitam-se os oito primeiros para o “mata-mata”. Na última rodada da fase classificatória, Flamengo e Grêmio jogam no Maracanã. Na rodada anterior, o Flamengo é o oitavo colocado, e o Internacional, o nono, um ponto atrás. O Grêmio já não tem possibilidades nem de classificação e nem de rebaixamento.
Nesse caso, o Grêmio pode “entregar” o jogo para o Flamengo, prejudicando o seu rival Internacional. Com isso, o Flamengo, como oitavo, se classifica para a fase decisiva, e o Internacional, que poderá permanecer em nono mesmo vencendo o seu jogo, não.
Em bom português: situação similar à que está acontecendo, no campeonato em pontos corridos, pode acontecer no outro molde, com fase classificatória prévia.
Situações deploráveis como esta não resultam da forma de disputa de uma competição, mas de circunstâncias específicas, inerentes a qualquer tipo de fórmula. Mas, cinicamente, os defensores do “mata-mata” omitem este “pequeno” detalhe.
Campeonatos por “mata-mata” são muito legais. Campeonatos por pontos corridos, também. Por serem mais justos e propiciarem credibilidade aos certames disputados, os campeonatos principais devem ser disputados em pontos corridos, e os outros, em “mata-mata”. Simples assim! Sem sofismas.
Luis Filipe Chateaubriand é autor do livro 'Futebol brasileiro: um projeto de calendário', pela editora Publit (www.publit.com.br).