Por mais que muitos queiram acreditar que o governo Colombo é um terceiro mandato do LHS, também há muitos, dentro do mesmo governo, que gostariam de demonstrar que o governo Colombo é outra coisa. E por aí se estabelece uma guerra interna, onde as posições são marcadas a ferro e fogo e onde o “inimigo” é aquele que, antes da eleição, estava agarrado no pau da mesma bandeira, pedindo votos para o mesmo candidato.
A turma que estava ocupando espaços no governo anterior acha que não precisa (e não deve) sair, porque, afinal, “nós ganhamos”. E a turma que ainda não tinha uma boquinha, tá louca pra que os “velhos” desocupem a moita, para poderem se instalar.
Administrar tudo isso é a tarefa prioritária do novo governador. E nisso vai consumir alguns meses, deixando claro, à medida que perca ou ganhe batalhas, se será, de fato, um novo governo, ou apenas um fantoche do governador/senador.
Uma das disputas mais interessantes de se acompanhar, está relacionada com a Secretaria de Comunicação, onde reina, cheio de apoios, o Derly Anunciação. Seu bom relacionamento com a imprensa faz-nos desconfiar de todas as notas que saem nas colunas mais lidas: “teriam sido plantadas pelo Derly?” Às vezes não são, mas jamais saberemos, porque também há, entre nossos coleguinhas, quem goste de agradar e faça por conta própria sem nem precisar que alguém peça.
É mais ou menos por aí que vejo as notas atribuindo um excessivo poder eleitoral ao LHS. Saíram muitas, nesse sentido. Mesmo depois das urnas terem demonstrado que o milhão de votos mirrou bastante, ainda se lia aqui e ali coisas sobre a importância fundamental do LHS nessas eleições. Sem ele Serra teria sido derrotado, Colombo não teria sido eleito e provavelmente muitos deputados sequer teriam alcançado a suplência. Sem falar no Paulo Bauer, que também pode ser chamado de “senador a reboque”.
É importante, para certos setores, que LHS tenha essa imagem pública, porque aí fica mais difícil, para o Raimundo, descartar, no novo governo, a influência do governo sainte. Parece, portanto, coisa de gente de dentro, que está armando para continuar dentro. Até pode não ser (e jamais saberemos, porque quem está na luta intestina precisa ser discreto), mas parece.
O jornalista Moacir Pereira, num post intitulado “O perfil da continuidade”, sintetiza algumas facetas dessa guerra que está sendo travada a portas fechadas. E que tem frentes de batalha que vão ficando cada vez mais claras:
a) A resistência ao Ubiratan Resende. Pelo que se lê, ao “professor” se opõe parte do DEM, parte do PMDB e avulsos do PSDB. E os adversários se dedicam a espalhar, com alarde, que a escolha é do Jorge Bornhausen. Para dar a idéia que o Ramundo estaria a serviço do Kaiser. Enfraquecer a primeira escolha do novo governador, colocar areia no cargo mais importante, é do jogo. Uma primeira jogada, podemos dizer. Que vai definir as próximas. Se sentirem que ele acusou o golpe ou recuou, saberão como continuar a luta. É uma espécie de jogo de xadrez com navalhas e soco inglês.
b) A permanência do Derly. Ao comentar este aspecto, Moacir cunhou uma frase curiosa: “A permanência seria saída consensual”. A saída seria a permanência, ou a permanência seria a saída? E ao dizer que “o nome estaria se consolidando entre os líderes da tríplice aliança” o jornalista dá trânsito a uma informação que tanto pode ser plantada, quanto colhida. O fato é que todos os que pretendem continuar, precisam demonstrar que suas áreas foram bem sucedidas e não dão problemas. E de preferência que são os únicos capazes de manter a coisa funcionando.
c) Bornhausen de novo. Moacir insere, no jogo, um novo nome, Murilo Flores. Que participou do governo LHS. Adiciona, a suas qualificações, o fato de ter “respaldo dos Bornhausen”. Por que ressaltar isso? Ora, tanto pode ser porque os Bornhausen estão interessados em mostrar que vão influir no novo governo, quanto porque alguém acha que isso ajuda a “queimar” o candidato. Lembrem-se que se trata de briga de gente grande e profissional e que é recomendável que os amadores e os pequenos fiquem de fora. E de longe.
E voltando ao Derly, que está na área que, teoricamente, conheço um pouco melhor: não é um mau profissional, exerceu suas funções com a discrição que se espera de um técnico e, por não pretender carreira política, seus apoiadores não se sentem ameaçados ao dar-lhe poder. Foi uma espécie de coringa, ao ser colocado na Celesc e chamado para várias tarefas executivas, como a coordenação de campanhas.
O governador Colombo tem, na manutenção ou substituição do Derly, a grande prova de fogo de seu início de governo. Manter o esquema montado por Derly/LHS não seria, para o governo, um desastre completo. Mas substituir o “campeão” seria um gesto ousado, que demonstraria aos veículos de comunicação (e talvez até aos eleitores mais atilados), que Colombo quer dissociar sua imagem dos emblemas da administração LHS.
A novela, claro, está só no começo. Ainda veremos muito sangue esguichando nas paredes e muita facada nas costas. Ou não. Dependendo do nível de segredo que os contendores conseguirem manter, à medida em que a guerra transcorre.
Por: Cesar Valente