Toda vez que alguém faz uma crítica aos preparativos do Brasil para a Copa de 2014 e à Olimpíada de 2016 o Ministro do Esporte, Orlado Silva, pula da cadeira. Aliás, é uma das poucas vêzes em que ele se mexe e dá mostras de sua existência. Defende o indefensável, explica o inexplicável, como se a população brasileira fosse formada por um bando de debilóies. Se bem que tem hora que quase acredito nisso. Voltando ao Ministro, custo a crer que ninguém no governo Dilma (no de Lula se sabe que não)está preocupado com a possibilidade de o Brasil pagar o maior mico esportivo do mundo. Sobre isso o jornalista Juca Kfouri fez algumas colocações oportunas e perguntinhas ídem, cujo foco passa inevitavelmente pela até aqui desastrosa e comprometedora atuação de polítios e dirigentes esportivos direta ou indiretamente envolvidos com os dois grandes eventos que estamos prestes a trazer para o Brasil.
Por Juca Kfouri, na Folha de São Paulo
“PERGUNTAS QUE você precisa fazer para você mesmo para não perder a capacidade de se indignar, por mais que sejam repetitivas, e as respostas, insatisfatórias, escandalosas mesmo.
Por que o presidente do Comitê Organizador de Londres-2012 é Sebastian Coe, dos maiores atletas da história da Inglaterra, e, aqui, é Carlos Nuzman, que também preside o Comitê Olímpico Brasileiro, algo inédito na história olímpica, o mesmo cartola comandar os dois órgãos?
Por que, aqui, o presidente do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo é Ricardo Teixeira, o presidente também da CBF, se na França o presidente foi Michel Platini, que não era o presidente da FFF, a Federação Francesa de Futebol?
Por que, aqui, o presidente do COL é quem é, se na Alemanha foi Franz Beckenbauer, que também não era o presidente da federação local?
Por que o conjunto aquático Maria Lenk não será aproveitado para as provas de natação na Olimpíada-2016, se, quando construído para o Pan-2007, foi apresentado como trunfo para a candidatura do Rio de Janeiro?
Por que o Morumbi, há 50 anos servindo o futebol mundial, palco de jogos das eliminatórias de diversas Copas do Mundo, de várias decisões da Libertadores, do Mundial de Clubes da Fifa, não serve para a Copa-2014, um evento que dura um mês, com, no máximo, seis jogos por estádio?
Por que não há, nos dois comitês nacionais, nenhum, rigorosamente nenhum brasileiro que o país admire, alguém que tenha fé pública, credibilidade tal que ninguém o imagine fazendo coisas erradas com dinheiro público? Nenhum!
Por que a OAB não tem um representante? A ABI? As centrais sindicais? O IAB? A UNE, o Corpo de Bombeiros, o raio que os parta?!
Cadê os Ermírio de Moraes, os Gerdau, os Moreira Salles? O capital e o trabalho? Cadê?
E note que não se reclama aqui da ausência de ninguém dos poderes Legislativo e Judiciário, embora seja um absurdo que não haja, também, ninguém do Executivo, noves fora Henrique Meirelles, a APO, Autoridade Pública Olímpica, mas que, lembremos, é indicação do governo federal, não faz parte do comitê organizador da Olimpíada.
Está mais do que na hora de não engolir tanto escárnio, porque quem pagará a conta de um novo estádio em São Paulo, de novos equipamentos no Rio, de tudo, é você, sou eu, somos nós.”