O Jornal do Almoço de ontem mostrou o protesto dos professores em Lages, segunda à noite, diante do governador Raimundo Colombo. O governador apareceu meio de lado, falando alguma coisa incompreensível, com som ruim, provavelmente para rádios ou outras emissoras de TV. É claro que não entrevistar o governador nessa ocasião foi uma falha da RBS. Ou, se entrevistou, errou em não mostrar nem um trechinho do que o governador falou. Ainda mais porque uma das faixas cobrava “serrano que é serrano cumpre a lei”. Não é possível que Colombo não tivesse nada a dizer sobre isso.
Contudo, a imagem que foi mostrada ilustra bem o momento que vive o governador catarinense. Não está conseguindo falar com a população. No máximo parece resmungar alguma ladainha sem grande interesse.
Olhando aqui de longe tem-se a impressão que o governador está perdendo algumas batalhas, na guerra da comunicação. E parece que, em alguns casos, simplesmente nem há luta. A toalha é jogada no tatame antes de qualquer confronto. Para quem estuda e se preocupa com comunicação institucional, assessoria de imprensa e relações públicas, a estratégia do governo catarinense nessa área não está clara. Ao contrário, tudo soa muito estranho.
O governo está sendo pautado pelos acontecimentos e não consegue fazer-se ouvir. Mas também, pelo pouco que se ouve, não tem novidades a apresentar. Como fazer para chamar à razão, com sussurros tímidos, uma categoria que foi mobilizada por discursos inflamados enquanto o governador passeava na Europa?
As reivindicações salariais e de correção dos planos de carreira dos servidores são questões permanentes que se arrastam há décadas. Luiz Henrique deparou-se com elas já nos primeiros meses do seu primeiro mandato. Por oito anos LHS driblou as crises do funcionalismo, adiando o estouro. Colombo pegou o bonde andando e também vai tentar ganhar tempo. Fará tudo para que a crise atual ainda não seja o grande terremoto que se anuncia há tantos anos. Mas ele virá.
E por que os governos não solucionam os problemas do funcionalismo? Porque não conseguem. Simples assim. E não conseguem, em grande parte, porque não podem.
Não tem como mexer nos altos salários (direitos adquiridos, etc e tal), não tem como reduzir a folha (servidores públicos são estáveis, certo?), é quase impossível mexer na legislação que rege o funcionalismo (para tirar, por exemplo, a gratificação por tempo de serviço), não tem como tornar a “máquina” eficiente, porque justamente as funções principais, as chefias, são ocupadas, em grande parte, por gente inexperiente que está ali porque faz parte de um grupo político. Está ocupando espaço, mas não exerce qualquer função relevante para o funcionamento estatal. E quando começa a aprender alguma coisa, sai para se candidatar, ou para outra função melhor remunerada. Ou mesmo para voltar à sua atividade principal: ser cabo eleitoral.
As “equipes de governo” passam a maior parte do tempo ocupadas com tarefas relacionadas com a próxima eleição, com as carreiras políticas, com os acordos políticos, com o atendimento aos aliados (que fazem todo tipo de pressão e são mais perigosos que os opositores). Sem falar de outras ocupações que eventualmente mobilizam a “equipe”, mas que nada têm a ver com a administração propriamente dita.
Diante disso tudo, ou mesmo por causa disso tudo, o governo teria que montar uma estratégia inteligente de comunicação que levasse, ao eleitor/contribuinte, o contraponto ao que grevistas, servidores em campanha e outras vozes andam espalhando. E o governador teria de agir de acordo com essa estratégia. Se ela existisse. Para mostrar que está no controle pelo menos do seu governo, que tem discurso e sabe para onde vai.
Esta viagem a Brasília, para fazer ao ministro da Educação um pedido que soa como súplica e que, segundo o próprio governo, tem mínimas chances de atendimento, é uma boa demonstração de como o governo está desorientado. E isso também é problema de comunicação, porque a leitura que o eleitor/contribuinte faz dessas ações vai influenciar diretamente na imagem que ele tem do governo.
Também está nas ruas e na boca do povo, desde ontem, a informação que se o governo Dilma não der um reforço de caixa, o governo Colombo fica no mato, sem cachorro. Se é verdade ou mentira, pouco importa: quantos acreditam que o governo seja capaz de resolver sozinho o imbroglio se a Dilma der as costas e disser “te vira”?
E se o governo federal atender à súplica e estender a mão amiga? Aí, como se dizia antigamente em Florianópolis, “vai ficar muito bonito pra tua cara”. Típica situação de “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.
O cenário não é dos melhores. Como diz o próprio secretário de Comunicação dos governos LHS e Colombo, Derly Anunciação, “o modelo está falido, não tem solução”. Para ele, “os governos têm que parar de gerar expectativas que não irão cumprir”. Isso soa um pouco estranho, ao ser dito por alguém que coordenou campanhas eleitorais onde foram criadas várias expectativas (em geral, numa eleição, vence quem cria maiores e mais espetaculares expectativas). E onde nem se mencionou a impossibilidade de resolver os problemas dos servidores.