sábado, 3 de julho de 2010

Sonhos



Vamos imaginar outra competição logo após o fiasco nesta Copa. Na verdade logo teremos com o que nos distrair, mas apenas um amistoso dia 10 de agosto nos Estados Unidos. Já serve. Quem sobraria desta seleção? Júlio César, Maicon, Lúcio, Juan. E...? Robinho, quem sabe. Do banco resgataríamos o Nilmar. Alguém mais?

Fora das quatro linhas eu começaria dispensando Ricardo Teixeira, o presidente da CBF. Em seis Copas na sua gestão, somente duas conquistas. Aliás, bom tema para reflexão. Não podemos mais encher a boca para dizermos que somos os melhores do mundo. Da década de 70 para cá, jogamos dez mundiais e ganhamos só dois (94 e 2002), justo os do seu Teixeira. Mas esse é imexível. O sistema e os podres poderes da cartolagem brasileira não permitem sua substituição.

De resto não sobraria nem o Rodrigo Paiva, assessor de imprensa insosso, despreparado e covarde. Dunga e Jorginho seriam os primeiros a receber o bilhete azul. Ô duplinha incompetente. O preparador físico Paulo Paixão poderia ir junto pra onde quisesse. Nunca explicou convincentemente os problemas da sua área. É aí que entra o médico Luís Runco, um péssimo contador de histórias. Como a do Elano, por exemplo, vítima dos segredos da seita dungueana.

E acreditem. Sexta-feira à noite, ainda mal do estômago por causa do suco de laranja azedo ouvi, ao vivo e a cores de um ex-dirigente da CBF, a mais nova teoria da conspiração. Fomos eliminados pela Holanda porque o Brasil não poderia ser hexa campeão na África do Sul e hepta em 2014 no Brasil. O homem garantiu que estava falando sério e invocou seus conhecimentos de bastidores.

De volta pra casa, depois desta conversa que aconteceu à noite no programa "Conversas Cruzadas, da TV Com, e ainda sacudido pelas turbulências do dia, tomei um chá de camomila para poder dormir tranquilo e sonhar com a Copa brasileira em 2014. Sem sustos, sem roubalheira, cheio de otimismo e com um grande time para torcer.

Fato: a Holanda é mais time que o Brasil

Ouvi tudo quanto é tipo de teoria para justificar a derrota em campo do Brasil para a Holanda, de virada. Crucificaram o Felipe Melo, a zaga brasileira, o meio que não funcionou... Mas a minha teoria é absurdamente diferente: a Holanda é muito, mas muito mais time que o Brasil. Venceu o 26o. jogo seguido, o que o credencia para a final da Copa. Aposto nos laranjas lá, e torcerei por eles. Não deram pontapé, jogaram com competência e paciência, e mereceram a vitória.

O Brasil, armado do jeito que conhecemos, teve a sua chance no primeiro tempo, quando a Holanda teve dificuldade de encontrar o seu jogo. Fez um a zero no comecinho, poderia ter matado a parada lá, mas não matou. Começou o segundo tempo, e venceu quem teve cabeça. O Brasil não teve. Aí, foi a feição do seu treinador, aquele bocudo que sai soltando tudo pela boca até em entrevista coletiva. A Holanda acertou a marcação, colocou o seu joguinho no campo, e chegou no seu objetivo.

Muitos choram, lamentam, mas essa foi a eliminação menos dolorida da minha vida. Antes fosse se o Brasil merecesse chegar na final. Não mereceu, e bola pra frente. Só tenho pena do Felipe Melo, vão dedicar à ele essa desclassificação. Que não é culpa dele. Culpa do Dunga? É mais de quem o contratou. Pelo menos, a derrota foi absolutamente incontestável.


E perdemos....

Perdemos. E perdemos por causa do Felipe Melo, a personificação da segunda “era Dunga” na Seleção.

(Dunga deixa o campo abraçado por Jorginho; em coletiva após o jogo, técnico ratificou que está fora da Seleção depois de quatro anos de trabalho)

Essa não é uma justificativa aceitável para explicar a totalidade do fiasco brasileiro na Copa da África do Sul - ainda que eu tenha certeza de que essa vai ser a marca que ficará por gerações e gerações.

Perdemos por esse e muitos outros motivos que, se não forem observados, serão motivos de uma tristeza ainda maior do que “o repeteco da feia era Dunga”: um segundo Maracanazo em 2014.

Um dos motivos, tão simples quanto importante, foi a ausência de bom senso: nem se ganha com a zona varzeana de 2006; nem se ganha com o colégio para seminaristas militares de 2010. Equilíbrio! Clichê??? Okay, mas faltou.

Perdemos também porque a Holanda foi melhor no segundo tempo (verdade!).

(Snejider, eleito melhor em campo, e que marcou seu primeiro gol de cabeça na carreira - ele tem 1,70 m)

Mas também é verdade que foi melhor se encostando no que tínhamos de melhor e ficamos cantando aos quatro ventos - tal qual fosse invencível: nossa defesa, sim, falhou. Falhou feio. Ser melhor é estar melhor. E não estivemos melhor - tomamos gol da Tanzânia, da Coreia do Norte e da Costa do Marfim. E que falou Lúcio à época? "Não preocupa. Tomamos em hora conveniente."

Perdemos porque preparação para Copa, assim como concentração, não é hora de festas e oba-oba no Zimbábue e na Tanzânia. Principalmente porque sabíamos (sim, apesar do discurso politicamente correto, todos sabiam) que a primeira fase não seria nada perto dos mata-matas diante dos favoritos ao título.

Ganhar Copa América é legal, ganhar Copa das Confederações é bacana, ser terceiro na Olimpíada é "médio" e classificar em primeiro nas Eliminatórias é ótimo, mas é muito melhor ganhar uma Copa, não? Nós brasileiros sabemos disso melhor do que ninguém. Por isso supervalorizar conquistas, que sabemos menores, não ajuda. E não ajudou.

O mundo não acabou ou vai acabar porque fomos eliminados da Copa por uma seleção favorita ao título...

Bem, talvez o mundo do "Patriotismo Cego e Burro Futebol Clube" tenha acabado...

Que seja bem-vindo o bom senso. Pra começar...