Por Regis Tadeu
Todo mundo que acompanha os meus textos e vídeos aqui sabe de minha opinião a respeito de Michael Jackson – veja em aqui e aqui. Por isto, a princípio, pensei em recusar o pedido do Yahoo! para que escrevesse algo a respeito deste atormentado ser cuja morte completa dois anos nesta semana. O que eu poderia escrever de inédito e interessante de uma figura já devidamente esmiuçada?
Foi então que me lembrei de algo que me deixou espantado quando comecei a receber – literalmente – milhares de comentários a respeito destes dois textos: a constatação de que a maioria dos fãs brasileiros do cantor o idolatrava do “período Thriller” em diante! Pouquíssimas pessoas demonstravam conhecer o disco Off the Wall – quando o faziam, citavam as músicas deste álbum que receberam videoclipes, ou seja, “Don’t Stop ‘Till You Get Enough” e “Rock With You”. Isto quando não diziam ser este o “primeiro disco-solo” do cantor, ignorando a existência dos álbuns anteriores. Fora isto, mais nada. Ninguém demonstrou sequer conhecer profundamente alguma coisa do Jackson 5.
Nem vou comentar aqui a debilidade da maioria destes comentários, sempre com argumentações “inteligentes e maduras”, do tipo “Regis, você tem inveja do Michael”, “você é uma bicha enrustida que nunca terá o sucesso dele”, “seu podre, o Michael sempre estará vivo em nossos corações” e outras babaquices típicas de quem tem um amendoim no lugar do cérebro. O que vou mostrar aqui é uma espécie de “volta ao tempo” e mostrar uma faceta musical de Michael que os baba-ovos não conseguiram – e ainda não conseguem – enxergar. Garanto que você vai ficar surpreso com o que vai ouvir e ver…
Got to Be There (1972)
Logo em seu primeiro disco solo, o pequeno Michael recebeu de presente do sensacional time de compositores da Motown uma cacetada melhor que a outra. De cara, a maturidade que exibe na versão para a maravilhosa “Ain’t No Sunshine” (assista aqui), de Bill Withers, já dava pistas de que Michael iria ser uma superestrela no futuro.
A sensação se prorrogava quando o menino soltava a voz ainda infantil, mas tremendamente segura, em um clássico como “Rockin’ Robin” e em temas suingados como “I Wanna Be Where You Are”. Até mesmo a versão de “You’ve Got a Friend”, de James Taylor, ficou ainda melhor com a abordagem de Michael e da Motown.
Ben (1972)
Tudo bem, a faixa-título é bonitinha, coisa e tal, mas fica muito aquém em termos de qualidade quando se ouve o resto disco. É incrível ouvir como Michael se ajustou bem no período em que sua voz estava mudando drasticamente.
É claro que o fato de o time de compositores da Motown ter voltado a trabalhar a todo vapor para suprir o pequeno Michael de boas canções em seu segundo álbum solo ajudou muito, mas não dá para ignorar sua destreza no balanço malemolente e cativante de “We’ve Got a Good Thing Going”, “What Goes Around Comes Around” e “People Make the World Go ‘Round” – esta gravada quase simultaneamente com a versão dos Stylistics.
Da mesma forma, o belo arranjo de “Greatest Show on Earth”, feito pelo produtor James Anthony Carmichael, que trabalhava com os Commodores, criava uma atmosfera de cumplicidade com as boas versões de “Everybody’s Somebody’s Fool”, de Jimmy Scott, e, claro, na estupenda recriação de “My Girl”, dos Temptations, aqui em uma versão bem mais funky.
E o que dizer então da espetacular “Shoo Be Doo Be Doo Da Day”, dada de presente por ninguém menos que Stevie Wonder?
Music & Me (1973)
O terceiro disco de Michael Jackson passou quase despercebido de todo mundo, muito provavelmente pelo excesso de baladas. Injustamente, o único destaque que o disco recebeu foi por conta de sua ótima faixa-título, mas há faixas muito interessantes aqui, como as belíssimas “Happy” e “Doggin’ Around”, a delicada “With a Child’s Heart”, uma espécie de “momento ABBA” na sutil “Up Again” e dois soul funky bem calibrado, “Euphoria” e “Johnny Raven”.
Forever, Michael (1975)
Este foi o seu quarto disco solo e o álbum que precedeu o estouro de Off the Wall e que traz algumas pequenas pérolas do cantor – então com dezesseis anos de idade -, mesmo que as letras sejam bem bobinhas, como é o caso de “Cinderella, Stay Awhile”, das baladinhas “You Are There” e “Dear Michael”, além do bom soul “Take Me Back” e até de incursões pela disco music, como “Just a Little Bit of You”.
Mas a grande pérola aqui é a linda e delicada “One Day in Your Life”.
Como se isto não bastasse, trago aqui um roteiro para você descobrir “tesouros escondidos” nos quatro primeiros discos do grupo que foi a plataforma para os vôos de Michael: o sensacional Jackson 5.
Diana Ross Presents the Jackson 5 (1969)
É claro que os mais esclarecidos conhecem clássicos instantâneos como “I Want You Back”, mas o disco de estréia dos garotos tinha outras canções de cair o queixo, como “Who’s Loving You” – composta por Smokey Robinson -, a divertida “Zip-A-Dee-Doo-Dah”, as sensuais “Can You Remember?” e “Standing in the Shadows of Love”, além da versão de “My Cherie Amour”, tão boa quanto o original de Stevie Wonder.
As harmonias vocais eram inacreditáveis mesmo para os padrões da época e poucas pessoas notaram a profunda influência exercida em todo o disco pelo som dos grupos Funkadelic e Sly & The Family Stone – tanto que a engajada “Stand” não foi incluída por acaso.
ABC (1970)
A intensidade da banda era tal que seis meses depois de seu disco de estréia foi lançado este ABC, que trazia logo de cara o estouro da faixa-título e da divertida “The Love You Save”.
Mas era inegável perceber que a banda tinha amadurecido horrores, até mesmo nos momentos em que tinham que encarar um romantismo explícito, como em “I Found That Girl”. Não dava para não sacudir o pescoço ouvindo pepitas como “(Come ‘Round Here) I’m the One You Need”, do Smokey Robinson & The Miracles, “Never Had a Dream Come True”, outra jóia esculpida originalmente por Stevie Wonder, e a inacreditável safadeza de “I Bet You”, composta por George Clinton.
Third Album (1970)
Mantendo a qualidade de seus discos anteriores, o grupo apresentou aqui uma pegada ainda mais funky – vide “Mama’s Pearl”, “Ready or Not Here I Come (Can’t Hide from Love)”, dos Delfonics, que anos mais tarde seria surrupiada pelos Fugees -, ao lado de hits instantâneos, como “I’ll Be There”.
Mas havia outras jóias escondidas, como a bela “The Love I Saw in You Was Just a Mirage” e uma surpreendente interpretação de “Bridge Over Troubled Water”, grande clássico composto por Paul Simon.
Maybe Tomorrow (1971)
Em seu quarto disco, o grupo deu uma pisada no freio e trouxe um número maior de baladas, mas com uma qualidade acima de qualquer suspeita, como no caso de “Never Can Say Goodbye”, do ator/compositor Clifton Davis – anos mais tarde imortalizada por Gloria Gaynor -, e a faixa-título.
Mas as canções eram legais mesmo quando a letra, como no caso da deliciosamente tola “My Little Baby”, nas sacolejantes “It’s Great to Be Here” e “I Will Find a Way”.
Bem, agora que foi devidamente “bombardeado” com uma série de informações, imagens e sons, que tal continuar a pesquisa por sua própria conta e deixar de lado o chororô dos fãs mais insanos, infantis e bobalhões?
Ouça os discos de Michael Jackson e do Jackson Five com a devida reverência e atenção, mas saiba identificar os momentos em que ele e seus irmãos pisaram na bola. Afinal de contas, nem mesmo todo o lobby feito por alguns milhares de fãs patetas fez com que uma picaretagem explícita como o disco póstumo Michael escapasse de ser considerada pela indústria fonográfica como “um dos maiores encalhes de CDs de todos os tempos”.
Foi então que me lembrei de algo que me deixou espantado quando comecei a receber – literalmente – milhares de comentários a respeito destes dois textos: a constatação de que a maioria dos fãs brasileiros do cantor o idolatrava do “período Thriller” em diante! Pouquíssimas pessoas demonstravam conhecer o disco Off the Wall – quando o faziam, citavam as músicas deste álbum que receberam videoclipes, ou seja, “Don’t Stop ‘Till You Get Enough” e “Rock With You”. Isto quando não diziam ser este o “primeiro disco-solo” do cantor, ignorando a existência dos álbuns anteriores. Fora isto, mais nada. Ninguém demonstrou sequer conhecer profundamente alguma coisa do Jackson 5.
Nem vou comentar aqui a debilidade da maioria destes comentários, sempre com argumentações “inteligentes e maduras”, do tipo “Regis, você tem inveja do Michael”, “você é uma bicha enrustida que nunca terá o sucesso dele”, “seu podre, o Michael sempre estará vivo em nossos corações” e outras babaquices típicas de quem tem um amendoim no lugar do cérebro. O que vou mostrar aqui é uma espécie de “volta ao tempo” e mostrar uma faceta musical de Michael que os baba-ovos não conseguiram – e ainda não conseguem – enxergar. Garanto que você vai ficar surpreso com o que vai ouvir e ver…
Got to Be There (1972)
Logo em seu primeiro disco solo, o pequeno Michael recebeu de presente do sensacional time de compositores da Motown uma cacetada melhor que a outra. De cara, a maturidade que exibe na versão para a maravilhosa “Ain’t No Sunshine” (assista aqui), de Bill Withers, já dava pistas de que Michael iria ser uma superestrela no futuro.
A sensação se prorrogava quando o menino soltava a voz ainda infantil, mas tremendamente segura, em um clássico como “Rockin’ Robin” e em temas suingados como “I Wanna Be Where You Are”. Até mesmo a versão de “You’ve Got a Friend”, de James Taylor, ficou ainda melhor com a abordagem de Michael e da Motown.
Ben (1972)
Tudo bem, a faixa-título é bonitinha, coisa e tal, mas fica muito aquém em termos de qualidade quando se ouve o resto disco. É incrível ouvir como Michael se ajustou bem no período em que sua voz estava mudando drasticamente.
É claro que o fato de o time de compositores da Motown ter voltado a trabalhar a todo vapor para suprir o pequeno Michael de boas canções em seu segundo álbum solo ajudou muito, mas não dá para ignorar sua destreza no balanço malemolente e cativante de “We’ve Got a Good Thing Going”, “What Goes Around Comes Around” e “People Make the World Go ‘Round” – esta gravada quase simultaneamente com a versão dos Stylistics.
Da mesma forma, o belo arranjo de “Greatest Show on Earth”, feito pelo produtor James Anthony Carmichael, que trabalhava com os Commodores, criava uma atmosfera de cumplicidade com as boas versões de “Everybody’s Somebody’s Fool”, de Jimmy Scott, e, claro, na estupenda recriação de “My Girl”, dos Temptations, aqui em uma versão bem mais funky.
E o que dizer então da espetacular “Shoo Be Doo Be Doo Da Day”, dada de presente por ninguém menos que Stevie Wonder?
Music & Me (1973)
O terceiro disco de Michael Jackson passou quase despercebido de todo mundo, muito provavelmente pelo excesso de baladas. Injustamente, o único destaque que o disco recebeu foi por conta de sua ótima faixa-título, mas há faixas muito interessantes aqui, como as belíssimas “Happy” e “Doggin’ Around”, a delicada “With a Child’s Heart”, uma espécie de “momento ABBA” na sutil “Up Again” e dois soul funky bem calibrado, “Euphoria” e “Johnny Raven”.
Forever, Michael (1975)
Este foi o seu quarto disco solo e o álbum que precedeu o estouro de Off the Wall e que traz algumas pequenas pérolas do cantor – então com dezesseis anos de idade -, mesmo que as letras sejam bem bobinhas, como é o caso de “Cinderella, Stay Awhile”, das baladinhas “You Are There” e “Dear Michael”, além do bom soul “Take Me Back” e até de incursões pela disco music, como “Just a Little Bit of You”.
Mas a grande pérola aqui é a linda e delicada “One Day in Your Life”.
Como se isto não bastasse, trago aqui um roteiro para você descobrir “tesouros escondidos” nos quatro primeiros discos do grupo que foi a plataforma para os vôos de Michael: o sensacional Jackson 5.
Diana Ross Presents the Jackson 5 (1969)
É claro que os mais esclarecidos conhecem clássicos instantâneos como “I Want You Back”, mas o disco de estréia dos garotos tinha outras canções de cair o queixo, como “Who’s Loving You” – composta por Smokey Robinson -, a divertida “Zip-A-Dee-Doo-Dah”, as sensuais “Can You Remember?” e “Standing in the Shadows of Love”, além da versão de “My Cherie Amour”, tão boa quanto o original de Stevie Wonder.
As harmonias vocais eram inacreditáveis mesmo para os padrões da época e poucas pessoas notaram a profunda influência exercida em todo o disco pelo som dos grupos Funkadelic e Sly & The Family Stone – tanto que a engajada “Stand” não foi incluída por acaso.
ABC (1970)
A intensidade da banda era tal que seis meses depois de seu disco de estréia foi lançado este ABC, que trazia logo de cara o estouro da faixa-título e da divertida “The Love You Save”.
Mas era inegável perceber que a banda tinha amadurecido horrores, até mesmo nos momentos em que tinham que encarar um romantismo explícito, como em “I Found That Girl”. Não dava para não sacudir o pescoço ouvindo pepitas como “(Come ‘Round Here) I’m the One You Need”, do Smokey Robinson & The Miracles, “Never Had a Dream Come True”, outra jóia esculpida originalmente por Stevie Wonder, e a inacreditável safadeza de “I Bet You”, composta por George Clinton.
Third Album (1970)
Mantendo a qualidade de seus discos anteriores, o grupo apresentou aqui uma pegada ainda mais funky – vide “Mama’s Pearl”, “Ready or Not Here I Come (Can’t Hide from Love)”, dos Delfonics, que anos mais tarde seria surrupiada pelos Fugees -, ao lado de hits instantâneos, como “I’ll Be There”.
Mas havia outras jóias escondidas, como a bela “The Love I Saw in You Was Just a Mirage” e uma surpreendente interpretação de “Bridge Over Troubled Water”, grande clássico composto por Paul Simon.
Maybe Tomorrow (1971)
Em seu quarto disco, o grupo deu uma pisada no freio e trouxe um número maior de baladas, mas com uma qualidade acima de qualquer suspeita, como no caso de “Never Can Say Goodbye”, do ator/compositor Clifton Davis – anos mais tarde imortalizada por Gloria Gaynor -, e a faixa-título.
Mas as canções eram legais mesmo quando a letra, como no caso da deliciosamente tola “My Little Baby”, nas sacolejantes “It’s Great to Be Here” e “I Will Find a Way”.
Bem, agora que foi devidamente “bombardeado” com uma série de informações, imagens e sons, que tal continuar a pesquisa por sua própria conta e deixar de lado o chororô dos fãs mais insanos, infantis e bobalhões?
Ouça os discos de Michael Jackson e do Jackson Five com a devida reverência e atenção, mas saiba identificar os momentos em que ele e seus irmãos pisaram na bola. Afinal de contas, nem mesmo todo o lobby feito por alguns milhares de fãs patetas fez com que uma picaretagem explícita como o disco póstumo Michael escapasse de ser considerada pela indústria fonográfica como “um dos maiores encalhes de CDs de todos os tempos”.