sábado, 9 de janeiro de 2010

Futebol S/A

Os nomes dos dirigentes esportivos aqui servem para contextualizar o leitor, com um breve perfil de quem são. Não se acusa ou absolve nenhum deles. Até porque, o importante é mostrar o benefício de um futebol rentável e transparente para o torcedor.

O que deu credibilidade ao atual presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman?

Fácil responder. Sua gestão à frente da Confederação Brasileira de Vôlei.

Ex-atleta, em pouco mais de dez anos transformou um esporte pouco conhecido no país em medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Barcelona.

E fez dele um bom negócio, inclusive para si mesmo.

Autoritário, apegado ao poder, se reelegeu algumas vezes ferindo a legislação, prejudicou clubes e patrocinadores ao dar prioridade às seleções masculina e feminina, vetou a saída de jogadores para o exterior, fez o diabo, até montar uma empresa de marketing esportivo sem aparecer como dono.

E nunca ninguém foi investigar do que ele vivia. Bastava ele responder que era advogado para que tudo ficasse aparentemente bem.

E por que Nuzman pairou sempre acima das críticas e averiguações tão comuns em relação à esmagadora maioria da nossa cartolagem?

Porque jamais alguém lhe negou a competência, a ponto de um dia o então presidente do Flamengo, Márcio Braga, ter dito que o presidente da Fifa, João Havelange, tinha casado a filha com o cartola errado.

Nuzman é a favor da profissionalização dos dirigentes esportivos. E tem agido com coerência em relação aos que trabalham com ele. Como, no entanto, o Comitê Olímpico Internacional, hipocritamente, diga-se, não permite que os presidentes de entidade sejam remunerados, ele trata de se defender de maneira indireta.

Ricardo Teixeira poderia estar na mesma situação. Bastaria ser competente, porque os caminhos indiretos ele conhece. Se, por exemplo, o Campeonato Brasileiro fosse um sucesso – como até a Copa do Brasil, criada em sua gestão por proposta da Pelé Sports&Marketing em associação com a rede de TV CNT, já é –, ele estaria no melhor dos mundos.

E ele está cansado de saber como fazer do Campeonato Brasileiro um sucesso.

Quando isso ocorrer, o futebol será um negócio tão bom para tantos, que ninguém perguntará mais por que ele é tão rentável só para alguns.

Aliás, é isso mesmo. Ninguém é contra cartolas ricos, desde que o futebol não fique cada vez mais pobre.

(Publicado na “Folha de S.Paulo” de 25/08/1996)