Em artigo anterior a este, mostravam-se as vantagens que poderiam ser decorrentes da adaptação do calendário do futebol brasileiro ao calendário europeu. Ou, como sempre bem assinala o jornalista Juca Kfouri, ao calendário mundial, haja vista que todo o mundo desenvolvido do futebol, aí inclusos México, Chile e, principalmente, Argentina, o adotam.
O tema é polêmico e não será em poucas linhas que se terá a pretensão de encerrá-lo. Em assim sendo, algumas ideias devem ser desenvolvidas em tal sentido. O presente documento é destinado a isso.
Foi explicitada a possibilidade dos jogos aos domingos serem às 18 horas, o que seria algo apropriado para o exercício do futebol em dias de verão. No entanto, o contra argumento é que a detentora dos direitos de transmissão, a Rede Globo de Televisão, seria contra essa mudança.
Contudo, uma análise cuidadosa mostra que, para a própria emissora carioca, o horário de domingo às 18 horas, ao invés de 16 horas – o atual – pode ser propício. Isso porque, no modelo presente, o futebol precisa ser intercalado com o programa de variedades do apresentador Fausto Silva. Assim, o “Domigão do Faustão” vai ao ar das 15 horas às 16 horas, é interrompido para o futebol e volta às 18 horas, para daí seguir, até o horário do “Fantástico”.
Será que, para a Rede Globo, o mais conveniente é exibir programações de forma fragmentada? Possivelmente, não. O mais apropriado seria transmitir as atrações de forma contínua.
Se o futebol fosse às 18 horas, o “Domingão” passaria a ser exibido das 15 horas às 18 horas, de uma forma contínua. A atração, assim, não precisaria ser interrompida, o que seria bom para a própria audiência.
Em resumo: o horário de 18 horas para jogos aos domingos parece apropriado; é bom para a emissora, que aproveita a audiência de dois programas contínuos, e não fragmentados; é bom para o telespectador, que pode aproveitar melhor a tarde de domingo, momento de recreação, e assistir seu futebol no início da noite; é bom para o torcedor que vai ao estádio, pelo mesmíssimo motivo; e é bom para os jogadores, que não precisam jogar com “sol a pino”.
Em tempo: para a própria Rede Globo, que é contra a adaptação ao calendário mundial, a dita adaptação poderia ser boa. Afinal, ao se seguir o calendário mundial, a atratividade do produto “futebol brasileiro” tornar-se-ia maior no exterior, um mercado de altíssima potencialidade e com oportunidades de ser explorado pela emissora de forma mais plena do que até então.
Outro ponto importante é que quando se alinha o calendário no Brasil ao calendário mundial, não são apenas competições como Copa América, Copa das Confederações e Copa do Mundo deixam de passar pelo constrangimento de ter a concorrência do futebol de clubes, mas outras competições, como as Olimpíadas e os Jogos Panamericanos passam por esse mesma situação.
É sabido que todas essas competições são jogadas em meados de seus respectivos anos, e o bom senso mostra que, quando há competições desse porte, não deve haver futebol nacional.
Cabe ressaltar que o clube é a instituição que deve ser mais valorizada, quando se fala em futebol. São os clubes que fazem o espetáculo e o negócio acontecer! Portanto, se de agosto até maio o futebol for integralmente dedicado aos clubes, é justo que os meses de junho e julho sejam dedicados às seleções. Com a adaptação ao calendário mundial, dá para fazer isso. Sem a adaptação, só será possível através de conceitos mirabolantes.
Mais uma questão que merece ser estudada é, em havendo a adaptação, qual o período das competições oficiais de clubes que deveria ser arrolado. Com o intuito de haver espaço para que todo o vastíssimo rol de competições fosse contemplado, isso deveria se dar entre o início de agosto de um ano e o final de maio do ano seguinte.
Mas aí se coloca outro relevante óbice: se a "janela" de transferências do meio de ano inclui os meses de junho, julho e agosto, e os campeonatos começam em agosto, há o risco de haver transferências quando a temporada oficial já começou. E, portanto, o problema principal seguiria sem ser resolvido.
Em primeiro lugar, basta os clubes terem uma postura mais firme, mais soberana, e decidirem: “em junho e julho, aceitamos fazer transferências de jogadores; em agosto, não mais”. Que os clubes tenham que transferir jogadores para o exterior, é aceitável, embora indesejável. Mas que eles tenham que os transferir a qualquer hora, a qualquer momento, é ir um pouco longe demais...
Isso, sim, parece postura de "colonizado": não adaptar nosso calendário ao mundial.
O presidente Luiz Gonzaga Belluzzo, do Palmeiras, deu o exemplo, há poucos dias: disse que não vai transferir ninguém em meio à competição em curso, o Campeonato Brasileiro; com a adaptação, os outros clubes poderiam ter, ao menos parcialmente, a mesma coragem - se aceita transferir em junho e julho, mas não em agosto.
Em segundo lugar, admita-se que se transfira jogadores em agosto. Ora, isso é início de temporada, os times ainda estão se ajustando. Bem ao contrário do que acontece atualmente, sem a adaptação, quando já se está em meio de temporada, e a perda de jogadores importantes é muito mais sentida, pois os times já têm padrão de jogo mais consolidado.
O polêmico assunto tem outras facetas. Estas, porém, serão discutidas em outro artigo.
*Luis Filipe Chateaubriand é autor do livro 'Futebol brasileiro: um projeto de calendário', pela editora Publit (www.publit.com.br).
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