Por que é tão difícil assumir uma postura estratégica e persistir com ela, mesmo com as “tempestades” que podem ocorrer no meio do caminho ou maus resultados esportivos?
Estratégia e planejamento, em linhas gerais, são palavras que caminham em sentido oposto à alta administração da grande maioria dos clubes de futebol no Brasil, apesar de terem conceitos bastante claros e evidenciados nos últimos anos por inúmeros exemplos em outras modalidades e fora do país.
Mas por que é tão difícil assumir uma postura de planejamento e persistir com ela, mesmo com as “tempestades” que podem ocorrer no meio do caminho ou maus resultados esportivos? A resposta é fácil para esta questão: a paixão fala mais alto, sempre.
Apesar do antigo chavão, fica claro que, quando nossos dirigentes do futebol são questionados ou falam em planejamento, eles traduzem para ganhar X jogos dentro de casa e Y pontos fora de casa. Isso não é planejamento. Isso são metas, que fazem parte de um segmento daquilo que se almeja alcançar lá no final da temporada. Para se alcançar essas metas, é preciso desenhar um planejamento e este deve explicar como e quais os meios necessários que o clube deve possuir e oferecer para que some mais ou menos pontos.
O planejamento estratégico envolve quatro passos básicos:
Identificação de objetivos, metas e missão organizacional;
Determinação de objetivos estratégicos, passando pela análise organizacional – a mais comum é a Análise SWOT, que consiste na observação dos elementos de forças e fraquezas internas e das oportunidades e ameaças que ocorrem no ambiente exterior à organização;
Mapear e analisar os recursos disponíveis para a implantação da estratégia.
Estabelecer um tempo limite final para a implantação das ações estratégicas e os planos de contingência, caso alguma coisa não funcione ao longo do caminho.
Esse é o embasamento teórico. E na prática? Bom, na prática o planejamento estratégico passa pela análise de todo processo administrativo. Envolve, por exemplo, a forma de contratação e promoção de pessoas, desde o cortador de grama até o craque da equipe, todos convergindo para um mesmo propósito.
A preparação e formação constante dos recursos humanos – o Atlético Paranaense, por conta de uma parceria com uma FC Dalas dos Estados Unidos firmada em 2006, fez com que todos os funcionários, da recepção ao alto escalão, aprendessem inglês em nome de um projeto que tinha o escopo da internacionalização da marca, a negociação de jogadores, o intercâmbio técnico-científico e outros.
Interessante é notar também que, quando há um anúncio sério de planejamento em longo prazo em um clube de futebol, este mesmo clube acaba alcançando o objetivo final antes do prazo pré-determinado, tanto em termos esportivos como em termos econômicos. Isso porque, sem foco, a organização não consegue tomar um rumo. Andando em um mercado no qual a grande maioria dos seus concorrentes estão sem rumo, é fácil perceber porque antes do tempo aqueles que possuem uma razão de existir acabam alcançando aquilo que planejaram.
Em Santa Catarina, em uma realidade que conheço bem – mas não diferente de outros Estados no Brasil -, há o costume de muitos clubes fazerem a contratação de um ex-jogador em atividade. Estes clubes parecem fazer um ensaio coreografado, pois se revezam ano a ano com o mesmo pensamento estratégico – ou falta dele. Em raríssimas oportunidades isso dá certo (não me lembro quando foi a última). Eistein já dizia: “fazer as mesmas coisas, repetidas vezes, e esperar resultados diferentes”.
Em linhas gerais, a cronologia deste tipo de ação é a seguinte: (1) o jogador é apresentado; (2) em um ou dois dias aparece em mídia nacional – já vi algumas situações de aparecerem como forma de chacota; (3) é anunciada a sua estreia apoteótica na competição; (4) o “ídolo” passa a receber vários privilégios, sem qualquer planejamento; (5) o “ídolo” ou se machuca, ou não joga bem, ou se envolve em alguma confusão com a comissão técnica, dirigentes, outros jogadores ou torcida; (6) vai embora, leva consigo um monte de dinheiro e o clube fica órfão novamente, caindo no ostracismo e manchando sua imagem.
Mas vamos pensar por outro lado e assim passaremos a concordar (eu e você, caro leitor, faremos um exercício de imaginação) que se trata de uma estratégia interessante em termos de marketing, apesar do aspecto esportivo ser discutível, pela lógica da divulgação da marca e projeção da equipe em mídia nacional. Contudo, o que se vê é que os clubes nem se preparam para isso.
Não há o menor cuidado para a escolha do ídolo pela análise do perfil do clube, das características da cidade, da imprensa, dos torcedores, dos dirigentes, dos jogadores ou da comissão técnica que possam ter alguma afinidade com aquele que está chegando.
O Corinthians, por sua vez, reuniu um conjunto de ações bem planejadas desde a comissão técnica até o departamento de marketing para potencializar negócios e resultados esportivos com a formação de um elenco recheado de estrelas, no qual há Ronaldo como grande expoente. O Fenômeno, quando não joga, vende camisetas. Nas não tão frequentes aparições, resolve o jogo, pois não se desgasta em partidas com pouca importância.
Falamos aqui de apenas um aspecto do planejamento, mais relacionado com os recursos humanos. Vamos avançar com esse conteúdo nas próximas colunas e tenho certeza que nossos dirigentes hão de me presentear até lá com ótimos exemplos!
Por tudo que foi falado, talvez fique claro porque alguns clubes têm “sorte” nas competições, e outros tanto “azar”. “Oh, mundo cruel!”.
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