Por Mauro Beting
Eu não sei quem estará transmitindo pela televisão aberta a primeira rodada do BR-12. Podem até ser mais de duas emissoras. Pode ser um jogo sem TV. Podem ser, sei lá, até mais – mas, provavelmente, pagando com o dinheiro que não tem, e com um time inteiro de advogados na porta da cabine e guardando o caminhão de externa.
Você não sabe quem estará transmitindo o Brasileirão do ano que vem com 20 clubes (e não sei se em turno e returno) em televisão por assinatura. Pode ser uma emissora. Podem ser duas. Mas é provável que ao menos uma esteja pagando para você pagar por ela.
Eles também não sabem qual emissora pagará para ver o que você já paga pela assinatura. Mas é muito provável que o pay-per-view vai continuar pagando muitas das contas do futebol.
Nós não sabemos quem vai ter os direitos de telefonia do Brasileirão. E nem ao certo sabemos como usá-los e usufruí-los, do mesmo modo que as empresas de telefonia nem sempre sabem se comunicar – e nos deixar comunicando.
Todos nós ainda não sabemos como usar direito a internet (e quais os direitos da grande rede) e nem evitar que a catnet seja provedora dos jogos pela rede.
Enfim, não sei o que vai dar.
Enfim, não sei o que vai dar.
Mas há muito já não estava dando certo o jogo de cartas e boladas marcadas. Jogadas ensaiadas pelo controle não tão remoto de quem paga as contas do futebol há muito. E não paga pouco. Mas manda demais. E tem mandado mal.
Mandando jogos para horários inconvenientes para o torcedor de arquibancada, não plantando a geração do futuro que precisa acordar cedo para ir à escola. Não para assistir a um jogo que acaba de madrugada porque a novela manda na tabela. Quando não o reality-show (cada vez menos reality, cada vez menos espetáculo) não empurra o pontapé inicial mais alguns minutos depois do chute nas partes mais baixas que a qualidade do programa.
O ideal, em qualquer negócio (e o futebol cada vez mais é um negócio qualquer), é a valorização do produto. Não apenas pelo dinheiro. Também pela exposição da marca, dos serviços, de tudo mais. Aquilo que estamos cansados de saber e que, por vezes, os cartolas parecem cansados de não querer saber.
Desde a Copa União de 1987 eles não se acertam. Com boas ou más intenções (mais para a coluna dois), clubes, ligas, federações e CBF vendem os anéis e enfiam o dedo onde o decoro que poucos têm me impede de seguir.
Muitos venderam barato o futebol. Alguns se venderam caro. Agora, fingem rebeldia quando, de fato, sabem que a concorrência que existiu em 1997, e na última querela pelos direitos, desta vez tem regras mais claras para entrar em campo.
Uma pena que os senhores dos botões não gostam de jogo franco. (Não vou usar JAMAIS a expressão “jogo limpo”). Não é do feitio de quem tem a bola. E nem de quem quer roubá-la. É a praxe desse mercado que não é brincadeira de mocinhos x bandidos porque um dos times perderia por W.O.
Não existem vestais. Nem editais que sejam 100% sem 10%. O jogo é esse. Propostas fechadas ou abertas não mudam muita coisa. Os direitos vão para quem oferece um pacote melhor e maior. Não necessariamente para clubes, atletas, treinadores e, principalmente, torcedores. Melhor para a turma de sempre.
O ideal, como torcedor, e não como jornalista também comprometido e enfronhado nesse futebol enxovalhado, é que mais gente pague mais dinheiro pelo futebol. Se continuar a tabelinha Globo-Band, na televisão aberta, sem tanto problema. Se der Record. Se der RedeTV!. Se der TV Medalhão Persa. Se o João Kleber for o narrador, tanto faz (quer dizer…).
O que importa é que mais gente tenha acesso ao show. E que ele valha para quem de direito dê mais dinheiro para um espetáculo de melhor qualidade.
Muito dessa questão sem vencedores e vencidos seria minimizada se os clubes não fossem tão reféns do dindim, do plimplim, do faça-por-mim. Se os clubes fossem há mais tempo melhor geridos, gastando o que tem, não desperdiçando com quem não tem, a dependência do grande irmão seria menor.
O ideal para o futebol e seus apaixonados é que mais gente possa participar do bolo. Mais gente possa difundir o melhor que o brasileiro produz. O futebol. Claro. Não aquilo que fica turvo a cada negociação, a cada decisão do Cade.
Entre tantas coisas que não sei, e que 99% também não, está quem tem razão nessa história que apenas começa. O Clube dos 13, mesmo quando surgiu nas trevas da parelha Octávio e Nabi na CBF, já era esse saco com fundos que é.
Já errava mais que o permitido, já ganhava mais do que deveria, já era mais elitista e arrogante que seus dirigentes. Conseguia ter 90% da torcida do país e angariava 110% de antipatia, e menos do que poderia da mídia. E tem no comando um dirigente profissional (ou remunerado) há 15 anos dizendo que não “pode deixar a entidade porque blábláblá”...
Os cartolas encastelados em seus feudos (quando não em suas fraudes) são tão volúveis e gritam a tanto volume que é difícil saber para que lado estão. Até quando defendem a luz do Sol dão margem para imaginar que devem ter algum contrato com empresas de energia solar. Não ajudam. E ainda atrapalham.
O C13, como cartório, pode passar o recibo da falência a hora que quiser, ainda que alguns dos seus consigam tentar fazer a coisa direito, abrindo o jogo e algumas das contas de modo inédito.
Os clubes que já bandearam ou estão a caminho, que ao menos tentem minimamente se unir em torno da melhor proposta. Ou das melhores. Porque se Flamengo e Corinthians merecem no cofre a atenção gratuita que já recebem, precisam lembrar que só são o que são porque existem adversários do outro lado do campo. Não inimigos. Eles jogam o mesmo jogo. E precisam ter um mínimo de regras iguais.
Dividir, no caso, não soma. Não multiplica. Subtrai. Para não dizer que trai.
Não sei quem vai ganhar esse jogo. Só sei que, no futebol, ninguém ganha sozinho.
Quero ver mais gente no pódio. Quer ver mais gente vendo quem está no pódio. Não no poder.
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