segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Um calendário para o Campeonato Brasileiro de futebol

Ao se contemplar a ideia de haver um calendário racional para o futebol nacional, ganha importância a definição criteriosa de como deve funcionar o Campeonato Brasileiro, principal competição da modalidade em nosso país.

O presente documento visa mostrar como essa competição deve ser estruturada.O maior acerto que já houve, em termos de calendário, no Brasil, foi a adoção do sistema de turno e returno e pontos corridos na realização do Brasileiro. A medida, adotada em 2003, revelou-se um acerto inequívoco, trazendo justiça, credibilidade e fácil compreensão para o certame.

Em 2003, o campeonato foi disputado por 24 agremiações. Em 2004, por 22. E, a partir de 2005, por 20. Esse número de disputantes, por divisão, também parece acertado. Se há bons argumentos para que sejam 22 ou 24 (e os há, já que alargar o número de participantes permitiria que mais mercados fossem contemplados, o que parece ter sentido em um país de dimensões continentais como o nosso), e também os há para que sejam 16 ou 18 (o que permite menos tempo de disputa e, portanto, maior período dedicado à pré temporada e jogos amistosos e excursões correspondentes), é fato que o número de 20 participantes por divisão é universalmente aceito, adotado na maioria dos campeonatos nacionais de expressão e, ademais, já se adota esse número no Brasil há cinco temporadas. Haver uma continuidade é algo positivo, razão pela qual aqui se defende que haja 20 clubes por divisão, mesmo.

Então, tem-se a fórmula certa e tem-se o número de participantes apropriado. Quer dizer, então, que está tudo certo com a principal competição do futebol brasileiro?
Em absoluto! Seis pontos precisam ser objeto de aperfeiçoamentos.

O primeiro deles é diretamente relativo ao calendário em si: jogar-se entre final de abril e início de dezembro de cada ano é um disparate, pois se joga só aos fins de semana em algumas época, em fins e meios de semanas em outras, se joga em meio à “janela” de meio de ano, o que faz com que os clubes percam seus principais jogadores durante a temporada; enfim, uma série de imperfeições estão contidas nesse modelo.

Qual a alternativa? Com a adequação ao calendário europeu, as 38 rodadas devem ser jogadas, 19 delas, na segunda metade de agosto e ao longo dos meses de setembro, outubro, novembro e dezembro, e as outras 19, ao longo dos meses de janeiro, fevereiro, março, abril e na primeira metade de maio.

Com isso, se preenche a maior parte do período de competições do calendário adequado ao mundial (agosto a maio) com o Campeonato Brasileiro e, portanto, há atividade para toda a temporada regular para os 60 clubes que o disputam (20 da primeira divisão, 20 da segunda divisão, 20 da terceira divisão).

O segundo ponto é que, com a configuração atual, há jogos em meios de semanas, o que é prejudicial. A principal competição do calendário deve ser valorizada, e não será havendo jogos às quartas e quintas-feiras que se estará fazendo isso.

Portanto, as 38 rodadas serão divididas em 19 fins de semanas na segunda metade de agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro, e 19 fins de semanas de janeiro, fevereiro, março abril e primeira metade de maio.

Ao se garantir jogos somente aos sábados e domingos para o Campeonato Brasileiro se está estimulando incrementos de bilheteria, audiência e, indiretamente, de patrocínio, para os clubes.

Terceiro ponto: na tabela dos campeonatos brasileiros dos últimos anos, tem-se incorrido, por vezes, na prática de alguns clubes, jogarem-se três ou quatro partidas seguidas com o mando de campo, e outros, três ou quatro partidas seguidas sem o mando de campo. Isso não é interessante, nem do ponto de vista técnico, muito menos ainda do ponto de vista comercial.

No livro “Futebol Brasileiro: Um Projeto de Calendário”, de autoria deste escriba, há uma metodologia de elaboração de tabela para o Campeonato Brasileiro em que todos os clubes fazem uma sequência máxima de dois jogos seguidos com o mando de campo e de dois jogos seguidos sem o mando de campo ao longo de todo o campeonato, o que parece ser muito mais profissional que a situação atual.

Um quarto ponto é que a terceira divisão não é disputada em turno e returno e por pontos corridos – e deveria sê-lo.

Se regionalizar a terceira divisão reduz custos, a justificativa para não a fazer em pontos corridos, também reduz receita: competições de pontos corridos são as mais justas, as de maior facilidade de compreensão, as que trazem maior credibilidade e, em consequência, as com maior potencial arrecadador. E uma terceira divisão em pontos corridos acarreta um mínimo de 38 jogos para todos os clubes que dela participam – pela metodologia atual, há clubes que só realizam oito jogos.

Garantir que os clubes da terceira divisão façam 38 jogos é propiciar a eles atividades ao longo de toda a temporada, algo que não acontece com a terceira divisão sendo disputada nos moldes atuais.

Mais um ponto, o quinto: o acesso e descenso entre cada divisão não deve ser de quatro clubes, mas de cinco, incluso aí o fato de que os cinco primeiros colocados da Série A do Campeonato Brasileiro devem se classificar para a Taça Libertadores da América, e não os quatro primeiros (os clubes que chegarem entre a sexta e a décima colocação devem disputar a Copa Pan-Americana, sugerida em substituição à Copa Sul-Americana).

Fazer com que o acesso / descenso seja de cinco clubes, ao invés de quatro, propicia que clubes que estão em divisões menores tenham mais acesso às divisões maiores, o que parece propício em um país que tem cerca de 700 clubes profissionais, muitos deles com reconhecida tradição. Ademais, faz com mais clubes tenham objetivos a cumprir ao longo de todo o campeonato, impedindo que alguns deles joguem desmotivados nas últimas rodadas.

O sexto, e último, ponto é que se deve repensar datas e horários de jogos. Sobre datas, é de se esperar que jogos de uma mesma divisão sejam simultâneos, para que não haja favorecimento a algum clube. Sobre horários, é de se esperar que os jogos se deem ao “pôr do sol”, para que os atletas não sejam obrigados a incorrer em esforço físico demasiado.

Pode-se, portanto, pensar em fazer os jogos da segunda e da terceira divisões sempre aos sábados, às 18 horas. Os jogos da primeira divisão, assim como os do Torneio da Integração Nacional (uma espécie de quarta divisão), podem ser sempre aos domingos, também às 18 horas.
Como se vê, muito ainda se tem que trabalhar para que o Campeonato Brasileiro chegue no patamar que merece. Em isso acontecendo, pode-se crer que poderemos ter uma liga nacional das mais interessantes do planeta em nosso país!

*Luis Filipe Chateaubriand é autor do livro 'Futebol brasileiro: um projeto de calendário', pela editora Publit (www.publit.com.br)

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