O Campeonato Brasileiro de 2005 vai ser eternamente lembrado pela intervenção do árbitro Edílson Pereira de Carvalho na manipulação de 11 jogos. Dentro desse contexto, a proposta de criação de uma entidade mediadora entre o interesse público e o privado ajudaria a garantir direitos e deveres das duas partes.
Está na hora de pensar numa Agência Nacional do Esporte (ANE). Para fazer o meio-de-campo entre o público e o privado, entre o cidadão e o governo.
É verdade que a idéia das agências não pegou direito no país. A velha história de sempre. Os governos tentam instrumentalizá-las, por mais garantias (ou exatamente por isso) de autonomia e imunidade que haja para seus integrantes. Foi assim no governo FHC e tem sido assim no atual, de Lula.
Mas a ideia é boa e seria um avanço para garantir os direitos do torcedor neste Brasil que tenta confundir o direito assegurado de autonomia das entidades esportivas (garantido na Constituição) com a farra do boi, como se o esporte fosse uma terra de ninguém.
O artigo que a garante, o 217, nasceu da natural preocupação dos legisladores devido à ingerência indevida do Estado no período da ditadura, mas acabou por se transformar numa carta de alforria às barbaridades cometidas por CBF, COB e seus apêndices.
Uma ANE, que de fato representasse a sociedade civil, seria instrumento poderoso contra os absurdos, funcionaria como um ponto de equilíbrio para definir responsabilidades no mundo do esporte. Por exemplo: a CBF, que sempre argumenta ser uma entidade privada, embora lide com uma das áreas mais públicas do Brasil, provavelmente não escaparia ilesa de mais um escândalo nas arbitragens.
Sindicâncias não seriam feitas por pessoas indicadas pelas próprias entidades que deveriam ser investigadas, como estamos vendo tanto na CBF quanto na FPF.
O Ministério do Esporte seria cobrado em seus deslizes, que têm sido muitos, como se vê a cada dia na imprensa de modo efetivo e rápido. Não se sentaria, como está sentado, há um ano num escandaloso episódio de liberação de verba para municípios e entidade (a UNE, controlada pelo PC do B do atual ministro) inadimplentes.
É claro que da democratização do país para cá já estamos mais que vacinados contra tudo que possa surgir como panacéia, pois aprendemos que nada tem tal efeito. Mas nem por isso devemos desistir de tentar aprimorar os mecanismos de controle e de influência da sociedade nos temas que lhe dizem respeito de perto.
Apesar de a esmagadora maioria da imprensa esportiva ter apoiado a decisão de anular os 11 jogos apitados por Edilson Pereira de Carvalho, a opinião pública, em não menor esmagadora maioria, ficou contra.
(Publicado na “Folha de S.Paulo” de 09/10/2005)
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