Por:Mario Medaglia
Tem uma coisa que me incomoda muito no jornalismo esportivo de hoje que é essa cobertura festiva, recheada de oba-oba, independente da modalidade. Claro que o futebol é a maior vitrine para essa relação promíscua que se estabeleceu entre jornalistas e fontes, intimidade incomum, inadequada e bem visível quando se trata de material veiculado principalmente por televisão e rádio. Os programas de debates, às centenas por esse país futebolístico, expõem outra face, a que pertence ao segmento da mídia impressa.
São poucos os repórteres, comentaristas ou narradores que resistem à tentação de uma boa puxada de saco, em prejuízo da informação, das perguntas pertinentes, reproduzindo inverdades ou situações mais próximas da ficção.
Há grandes especialistas nesta fórmula que toma conta do jornalismo esportivo brasileiro. Nem é preciso citá-los individualmente, são bastante conhecidos do ouvinte-telespectador-leitor. É uma praga que se espalhou pelas redações do país inteiro. Alguns jornais, raros programas de televisão, número menor ainda em se tratando de rádio, escapam dessa mania nacional.
O passionalismo do torcedor impede maiores reflexões sobre o assunto. Elogios ao seu time e seus ídolos acomodam arquibancadas, dirigentes e profissionais envolvidos com o meio futebol ou modalidades que margeiam o dia a dia do noticiário esportivo. A crítica, mesmo que isenta e bem intencionada, provoca efeito contrário. Tem gente que já apanhou ou foi ameaçado de morte por emitir opiniões livres de paixões, deixando a festa e o foguetório para os torcedores de carteirinha. São chamados de ranzinzas, “do contra” e acusados de torcerem pelo adversário.
Tostão escreveu esta semana na sua coluna da Folha de São Paulo abordagem parecida com a que faço aqui, mas com a mesma conclusão: “O jornalista tem de estar perto da fonte e das notícias e, ao mesmo tempo, ter um distanciamento crítico”. Nosso distanciamento na realidade é outro, bem longe do que deveria ser uma regra e se transformou em honrosas exceções.
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