domingo, 6 de março de 2011

Exemplares Toninho Cerezo, Xico Sá e Lea T.

XICO SÁ
Carta para Lea T.

Cerezo dividiu com todo mundo o carinho pela filha. Deixou claro que não há desgosto

AMIGO TORCEDOR, amigo secador, esqueça por um momento os canalhas e os faraós que mandam no nosso futiba, esqueça as desgraças recentes do seu time do peito, deixe de lado inclusive os eufóricos triunfos. Ponha uma pedra em cima das resenhas esportivas e amoleça o seu petrificado coração de gelo.
Meu menino, minha menina, que coisa linda a carta que o Toninho Cerezo escreveu para seu filho, sua filha.

Saiu na revista “Lola” deste mês, corra, velho fanático, corra, leia o manifesto do bravo pai do Leandro -o rapaz que virou Lea T.

Cerezo pôs toda a elegância que usava no futebol, talvez o mais conservador e machista dos ecossistemas terrenos, na sua declaração de amor incondicional.
“Dois filhos em um”, o título da missiva, resume com graça a história.

Um chega pra lá, com classe, nos torcedores que o provocaram nos estádios quando Lea T. debutou no mundo fashion.

Cerezo era técnico do Sport no momento em que a modelo, já célebre na Europa, tornou-se conhecida também por aqui.

“A paternidade é livre de qualquer padrão, de qualquer critério imposto pela sociedade, filho deve ser aceito na sua totalidade, na sua integral condição de vida, independentemente da sua orientação sexual”, diz o craque na bola, craque na ética.

Meu menino, minha menina, e não é que a Lea T. repete nas passarelas e editorias de moda a mesma elegância do ex-jogador do Galo e da seleção brasileira?! Tal pai, tal filha, cada um com a sua arte.

E pouco importa que a carta de Toninho Cerezo sirva de exemplo ou não contra o machismo no esporte. Seja no futebol ou no rúgbi. A beleza está no manifesto público de devoção pela sua criatura.

Ninguém é obrigado, em nenhuma circunstância, a demonstrar abertamente o amor ou desamor paterno. Pode-se muito bem resumir o afeto ou o incômodo à convivência, aos muros da privacidade.

Cerezo dividiu com todo mundo o carinho pela filha. Deixou claro que não há desgosto da sua parte. “Menino ou menina, Leandro ou Lea, não importa mais, sempre serei seu pai e você, orgulhosamente, um pedaço de mim”, caprichou na carta aberta.

É para se orgulhar mesmo, moça, seu pai mostrou que é um grande cara. Aproveito a oportunidade para deixar os parabéns. Pelo sucesso e pelo encanto radical que nos desperta. Quanta beleza, quanta ternura.

Um beijo deste mal-diagramado cronista.

(Publicado na “Folha de S.Paulo de sexta).

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