Por PAULO SANT’ANA (colunista do jornal gaúcho Zero Hora)
Não sei o que foi mais deplorável, se a convocação de Dunga ou se a catastrófica entrevista coletiva que deu para o anúncio da convocação.
A entrevista foi a mais embaralhada e desastrada tentativa de um homem para tentar sair da escuridão dos seus limites para alçar voos intelectualoides às regiões da luz, a que é avesso por natureza.
A inteligência brasileira deveria ter sido poupada da pantomima de Dunga ao definir, numa caricatura sociológica, o que tinha sido a ditadura e a escravidão.
Um fiasco memorável. Além disso, foi uma aula de patotismo e de xerifismo, deixando claro que os valores a serem respeitados para a convocação da Seleção para a Copa do Mundo em nada dizem respeito ao talento e ao desempenho dos jogadores, mas, sim, a enganadores princípios de panelismo e subserviência.
Foi um vôo de galinha sobre o altiplano das ciências psicossociais.
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Mas não se exige de um treinador da Seleção Brasileira que ele não seja analfabeto nem que seja um intelectual.
O que se exige como mínimo requisito de um treinador da Seleção Brasileira é que ele entenda de futebol.
E, ao não convocar Neymar e Ganso e ao assassinar a pretensão de Victor de ser convocado por ser o melhor goleiro entre todos os que jogam no país e atuam no estrangeiro, Dunga revelou toda a sua incompetência, o seu mandonismo, a sua megalomania e sua prepotência.
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Não há como tirar Neymar da Seleção. Como ousou esta insolência à sensibilidade futebolística, Dunga se autonomeou como um Exterminador do Futuro, a natureza deu asas a Neymar, e Dunga prendeu-lhe o voo impiedosamente.
Nenhum dos 23 convocados por Dunga possui metade do talento de Neymar. Não tem explicação que este menino-deus do futebol seja afastado assim pela violência de Dunga dos quadros da Seleção.
Só pode ser pela vaidade e pela megalomania do treinador, que não admite que a opinião pública e a opinião dos entendidos possa superar a sua soberana opinião.
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Este é o perigo que corre a escolha de um treinador que tenha sido um tacanho jogador.
Quando rejeita acintosamente convocar Neymar e Ronaldinho Gaúcho, Dunga está cometendo um atentado contra o talento, contra a arte, contra a beleza do futebol, o que já sob certo aspecto fazia quando ele era jogador de futebol e incrivelmente até hoje não deixou no espírito de ninguém saudade ou sequer lembrança de sequer uma jogada sua nos campos em que atuou.
Jogador grosso, trombadão, tosco, enrolado, que só joga à base do físico e do fôlego, fatalmente, se se tornar treinador, vai carregar para a nova profissão todos os defeitos da anterior.
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Depois da entrevista trágica de Dunga ontem, restou por todo o espírito da nação o remorso e a injustiça da não convocação de Neymar e de Ganso. E, particularmente para nós, gaúchos, que temos assistido às grandes e inigualáveis atuações de Victor nos jogos do Grêmio, uma raiva incontida pela perversidade de sua não convocação. Não tem explicação, a não ser pelos desvios mórbidos que presidem os recalques.
Saí sem saber se o mais deplorável foi a convocação ou a entrevista coletiva do Dunga.
Mas agora, depois da antevisão de parte do que vai ser estampado nos jornais de hoje aqui no meu computador, posso garantir que não foi a entrevista do Dunga nem a convocação o mais deplorável.
O mais deplorável de tudo foi que há gente que gostou da entrevista do Dunga, considerou-a histórica e intelectualmente irretocável.
Tem gosto pra tudo.
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