sábado, 4 de junho de 2011

O dia em que deu tudo errado


Tenho acompanhado o noticiário das últimas semanas como qualquer espectador distraído. Não fui ao “palco dos acontecimentos”, não entrevistei ninguém. É, portanto, como observador distante que trago estes tópicos que me chamaram a atenção nessa semana agitada:
1. No dia 1º o governador fez, ao Ministro da Educação, um pedido para que o Supremo Tribunal Federal apressasse a publicação do acórdão da decisão relativa ao piso dos professores. Coisa esquisita, porque o STF se situa ali perto, no extremo da esplanada dos ministérios, diante do palácio do Planalto, logo após o Congresso. Não tinha porque pedir que o competente ministro do Enem levasse recado. E a resposta do ministro não poderia ser mais constrangedora: “o senhor então me encaminha uma cartinha com o pedido, que eu levo à presidente para que ela encaminhe ao STF”.
2. E o que estava fazendo, a ministra da Pesca, na audência do governador com o ministro do Enem? E ainda, sentada do lado oposto das autoridades do estado que um dia ela representou como senadora. Disse que era apenas uma professora aposentada. Que lustrosa e desassombrada cara de pau! Foi fazer a política mais rasteira, aquela dos que chutam cachorro amarrado. Todos sabiam, desde a véspera, que Haddad não teria como arranjar um jeitinho para ajudar SC. E ninguém entende o que Colombo foi fazer lá. O episódio era, portanto, grotesco por si só. Não precisava que a ex-sindicalista Ideli fosse lá, sentar-se ao lado do ministro, para tripudiar do governador (e, por extensão, do estado). E fazer média com o “seu público”.
3. Na mesma audiência, Colombo também pediu que o governo publicasse um ato proibindo o uso da verba do Fundeb para repasses aos demais poderes. Será que ele esqueceu, ou ninguém falou para ele, que em SC tem uma lei estadual sobre isso? E que, antes de pedir uma forcinha pro governo federal deveria ter revogado ou alterado a lei local? E já que ia falar no assunto no ministério da Educação, não seria prudente ter conversado antes com os demais poderes, para explicar que a coisa tá preta e que, no aperto do cinto, haverá novas regras?
4. A tal medida provisória implantando o piso foi outro destaque na espetacular comédia de erros. Logo que mandaram a mensagem para a Alesc, alguém falou que “a folha de pagamentos já está sendo processada com esses valores”. Para mostrar que era irreversível e fazer com que os ACTs se empolgassem com o salário maior. Mas os professores olharam no contracheque e nada. E isso foi só o começo: a MP nem tinha nascido e já se sabia que não sobreviveria. Outro revés público que talvez pudesse ter sido evitado com um pouco mais de calma. Foi, como se costuma dizer nessas horas, um balde de gasolina jogado à fogueira.
5. O governo inverteu (ou ignorou) os milenares ensinamentos sobre como agir em crises. Só quando terminou o estoque de ações unilaterais e depois de ter perdido algumas quedas de braço, começou a negociar. Se tivesse negociado primeiro, é possível que o desgaste fosse menor. E a solução, que todos estão achando que se dará neste final de semana, talvez pudesse ter sido encontrada antes.
6. Assim como o governo fica tenso com uma greve, os sindicatos também têm seu estresse. Porque sempre se sabe como uma greve começa, mas nunca se sabe como termina. Ter gente no governo que conheça a vida sindical e consiga administrar essas tensões, sempre é bom. O sindicato precisa de algo que possa anunciar, nas assembléias, como vitória “do movimento” ou “ganho real”. Apostar na derrota pura e simples, é idiotice. Isso que a secretaria da Educação faz, a cada greve, de ficar divulgando os “números da greve”, é contraproducente. Gera notícias favoráveis aos sindicatos e o governo sempre sai mal na foto. Cada ação do governo para mostrar, publicamente, que o “movimento” está fraco, reforça o movimento. Deixem que os meios de comunicação façam isso. Ao governo cabe, primeiro, não deixar bolas quicando para que os sindicatos chutem e, depois, negociar o tempo todo. É cansativo, trabalhoso, muitas vezes injusto (quando a pauta de negociações inclui meias verdades), mas não existe outra saída.
7. Aquela viagem a Brasília foi mesmo um desastre. O governador aproveitou que estava lá e foi conversar com o ministro da Justiça, sobre uma ajudinha pra construir a nova penitenciária estadual. Ouviu que o ministério não dará nada este ano. Até porque o projeto ainda não está no orçamento. Disse o ministro que Colombo deveria encaminhar o projeto o quanto antes, para tentar incluí-lo nas verbinhas de 2012. Mais uma audiência que não deveria ter ocorrido, para poupar SC de constrangimentos. Só que a coisa não parou por aí: aparentemente irritado com a resposta do “cumpaheiro” ministro do PT, Colombo resolveu sair-se com esta: “A obra da Penitenciária de Florianópolis terá início mesmo sem os recursos iniciais garantidos pelo Ministério da Justiça”. Uma bravata que até poderia passar despercebida, se os professores não estivessem em greve e se o governo não estivesse chorando as pitangas, dizendo que estava sem dinheiro para melhorar os salários. Será que não tinha ninguém ao lado do governador para aconselhá-lo a ficar quieto? “Por que não te calas, Raimundo?” indagaria o experiente rei de Espanha, se tivesse presenciado o fiasco.
8. A viagem a Brasília no dia 1º de junho de 2011 vai entrar para a história como uma das missões pior sucedidas do governo catarinense. Se eu fosse o Raimundo, trataria de conversar seriamente com quem planejou, acertou a agenda e o aconselhou a ir. E se foi por iniciativa do próprio governador, contrataria urgentemente um secretário do VDM, para examinar, antes, essas decisões. Um cara de bom senso que olhasse ou ouvisse o que o governador quer fazer ou dizer. Se ele dissesse “vai dar merda!”, era só não fazer ou dizer e pronto. Evitar-se-ia o vexame.
EM TEMPO
Vocês podem ou não acreditar, mas só vi agora o post do Blog do Canga em que o Sérgio Rubim fala, já no dia 2, do desastre que foi a viagem a Brasília. Alguns dos meus comentários coincidem com os dele de tal forma, que até parece que copiei de lá a idéia. Pra completar as semelhanças, usei números nos parágrafos, que foi também o recurso usado por ele.
Vejam que um desastre puxa outro. Se eu tivesse mantido a leitura dos blogs amigos em dia, teria visto como o Canga tratou do assunto e iria por outro caminho. Agora, não tem jeito: corro o risco de alguém imaginar que sou um reles plagiador. O que, por incrível que possa parecer, não sou.
Do De Olho na Capital

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